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Por que o planejamento financeiro é mais importante para as mulheres?

21 de março de 2016 Renata Fontes

Há cerca de dez dias atrás, escrevi sobre uma pesquisa conduzida pela Standard & Poor’s Ratings Services. Naquele texto, falei sobre o baixo índice de alfabetização financeira dos brasileiros em geral. Mas prometi que traria novas reflexões.

Aqui estou eu novamente. Dessa vez para tratar de outro achado da mesma pesquisa, porém não menos impactante: mulheres, pobres e pessoas menos instruídas estão mais propensos a sofrer de lacunas quanto ao conhecimento sobre conceitos financeiros básicos.

Fiquei mais abalada com a lacuna de gênero, pois nos dois outros casos é mais fácil compreender o resultado. Afinal, pessoas menos favorecidas têm, via de regra, menos acesso à educação de qualidade. E, o baixo nível educacional, por sua vez, impede o domínio das habilidades de leitura, escrita e matemática, imprescindíveis para a participação plena na sociedade. Por esse motivo, nesse post, vamos tentar aprofundar a discussão envolvendo mulheres e alfabetização financeira.

De acordo com a pesquisa, somente 30% das mulheres são alfabetizadas financeiramente, considerando todos os países contemplados. No caso dos homens, esse número sobe para 35%. E não importam as variações de idade, nível educacional ou renda. Em todos os extratos analisados, a conclusão é a mesma: no geral, mulheres são menos alfabetizadas financeiramente do que homens.

Essa realidade está presente tanto nos países emergentes (BRICS), como nas economias desenvolvidas (Canadá, França, Alemanha, Itália, Japão, Reino Unido e Estados Unidos).

No Brasil, a disparidade é maior do que o índice global, já que 41% dos homens são alfabetizados financeiramente e menos de 29% das mulheres estão na mesma situação. Dos BRICS, o Brasil é a nação que traz a maior lacuna de gênero, a qual supera os 12%. Na Índia e na Rússia, a lacuna de gênero situa-se em, aproximadamente, 7%. Na China, homens e mulheres apresentam percentuais semelhantes, porém com uma leve vantagem para o primeiro grupo. Na África do Sul, por sua vez, onde os percentuais também são similares, as mulheres aparecem em vantagem.

Mas o que tudo isso significa?

Por mais que a resposta não seja simples, é possível afirmar que mulheres são mais vulneráveis do que homens no que diz respeito às escolhas sobre poupança, investimentos e empréstimos. Minha preocupação aumenta ao considerar que as mulheres brasileiras vivem, em média, 7,2 anos[1] a mais que os homens. Essa diferença na expectativa de vida implica uma necessidade adicional de poupança.

Para traduzir isso em números, proponho um rápido exercício, a título ilustrativo. Considerando 50% do salário mínimo ideal divulgado pelo DIEESE relativo a fevereiro de 2016, as mulheres precisariam de uma renda equivalente a, aproximadamente, R$ 160 mil, para garantir o seu sustento no decorrer daqueles sete anos.

O fato é que me deparar com essa lacuna de gênero me remeteu a diversas vivências que tive como executiva e consultora. Meus superiores foram, em sua grande maioria, homens. Mas a melhor “chefe” que tive é mulher. E nela me espelhei para conduzir equipes, formadas predominantemente por homens. Sim, somos a minoria no mercado de trabalho. De acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua, as mulheres representam 42,8% da população ocupada, apesar de serem a maioria na população com idade para trabalhar.

Senti na pele o que é a diferença salarial, a despeito de ter mais anos de estudo do que muitos dos meus pares. Segundo relatório divulgado pela OECD, no Brasil, mulheres ganham menos que homens, independentemente do nível de instrução. As que têm ensino superior, recebem 40% a menos do que os homens. Tudo isso junto me leva a crer que a sociedade brasileira ainda atribui ao homem a responsabilidade de ser o provedor. E que, à mulher, cabe um papel secundário quando se trata de grana.

Pra mim, esse cenário reforça a importância de as mulheres assumirem uma postura ativa quanto ao planejamento financeiro pessoal e/ou familiar, pois o círculo vigente, do ponto de vista estritamente financeiro, não me parece virtuoso: as mulheres investem mais em educação (mais gasto), recebem menos pelo seu trabalho (menos poupança) e vivem mais do que os homens (mais gasto). Apenas pra constar, considero essencial investir em educação e adoro a probabilidade de passar mais um tempinho nesse mundo!

Pra terminar, gostaria de deixar um recado, em especial, para as mulheres: é fundamental refletir sobre todas as questões que foram levantadas aqui, por mais que eu não tenha conseguido me aprofundar nelas da forma como gostaria. E mais do que refletir, é necessário agir. Como dizia Caetano Veloso, “é preciso estar atento e forte”. E isso significa assumir o comando da sua vida financeira, evitar o consumo por impulso, sonhar mais alto e pensar no futuro.

Contribuir para mudar esses números é um dos meus sonhos!

[1] INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Tábua completa de mortalidade para o Brasil – 2014. Rio de Janeiro: IBGE, 2015.

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Categorias:Blog, Finanças pessoais
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Comentários

  1. Amanda Pimentel disse:

    Oi Renata, tudo bem?
    Gostaria de ter acesso ao estudo mencionado na matéria. O link não está mais disponível.
    Você teria como me enviá-lo?

    Desde já, agradeço por seu tempo.

    Saudações

    1. Renata Fontes disse:

      Amanda,

      Infelizmente só tive acesso ao seu questionamento agora.
      Você tem toda razão, o link saiu do ar… Mas segue o local onde a pesquisa está publicada: http://gflec.org/initiatives/sp-global-finlit-survey/
      Apesar da demora, espero que ainda lhe seja útil.

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