
Ser empreendedor: oportunidade ou necessidade?

Recentemente, estive em uma feira. Não era uma feira livre, espaço bem comum nas grandes cidades, em que são vendidos legumes, verduras, frutas e peixe fresco. Mas sim um lugar em que é possível comprar brinquedos, artigos esportivos, instrumentos musicais, eletroeletrônicos, roupas. Nessa feira, onde tudo tem, esbarrei com um empreendedor do ramo de som automotivo. Conversamos um pouco sobre o negócio, as vendas, o ano…
Quando a necessidade faz a ocasião!
Pouco se falava sobre aspectos gerenciais. Para falar a verdade, o dono da banca nem tinha ideia do seu faturamento. Apesar disso ser bem mais comum do que se imagina nos pequenos negócios, eu me surpreendi ao perceber a sua capacidade de mudar[1]. Não que ele esteja ganhando rios de dinheiro. Infelizmente, não me parece o caso.
O ganho, porém, é suficiente para que seu filho de 12 anos já esteja há mais tempo frequentando a escola do que o próprio pai. Isso, por si só, merece aplausos. Até porque o negócio estabelecido não tem relação alguma com a sua história profissional. Por muito tempo, esse empreendedor foi motorista. E há mais ou menos dez anos, ele se dedica a construir caixas de som para carros.
Se a mudança é inevitável, aumente suas chances de sucesso com um planejamento
Por determinado ângulo, essa capacidade de mudar é coragem, ou vontade de construir um futuro melhor. Por outro, a necessidade pode ter provocado a mudança. E nesse caso, temos o empresário por falta de opção[2]. Estou certa de que muitos empreendedores por falta de opção são bem sucedidos. Mas, sem querer ser definitiva, não acredito que isso predomine…
O fato é que, independentemente da situação, há risco envolvido. E se a mudança não trouxer um futuro melhor? E se a necessidade permanecer? Bom, se a mudança é desejada ou inevitável, planejá-la é fundamental para aumentar as chances de sucesso. Portanto, pesquise, estude, observe e converse sobre o mercado em que pretende atuar.
A criatividade do empreendedor
Não posso deixar de trazer um outro caso nesse post em decorrência de algumas coincidências. Só fui percebê-las na medida em que o escrevia… Curiosamente, essa situação também aconteceu em uma feira, só que de antiguidades. Escutei uma música – acho que era bossa nova, talvez Sinatra, ou ambas ao mesmo tempo -, vindo de um móvel inspirado na década de 50. Nele, além das caixas de som que o integravam, havia um amplificador antigo, funcionando perfeitamente, e um toca-discos (eles voltaram!).
Tive a oportunidade de conversar com o idealizador do projeto. E fiquei impressionada com a sua criatividade. Folhas de compensado garantem as curvas do móvel. As caixas de som são montadas com alto-falantes italianos. O próprio empreendedor garimpa os amplificadores e faz os reparos necessários. E o toque final está na pintura automotiva que o móvel recebe, cuja cor pode ser escolhida pelo cliente a partir de paletas para carros que, atualmente, são objetos de colecionadores.
E quanto às coincidências? São dois empreendedores trabalhando com som e marcenaria, inseridos, mesmo que indiretamente, no segmento automotivo. Um deles fabrica um produto de baixo valor agregado, justamente aquele que parece ter sido um empreendedor por necessidade. O outro faz o oposto, agregando valor ao produto que criou. Resta saber qual foi a sua motivação para empreender.
[1] Espero que esteja claro que estamos falando de algo que representa um dos maiores desafios dos gestores de grandes empresas.
[2] A pesquisa GEM (Global Entrepreneurship Monitor) de 2013 mostra que 71% dos brasileiros que iniciaram um negócio próprio foram motivados por uma oportunidade. Em 2002, apenas 42% das pessoas abriam uma empresa por identificar uma demanda no mercado.
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