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Como escapar da armadilha da escassez

10 de setembro de 2022 Renata Fontes e Rebeca Nunes

Como escapar da armadilha da escassez

Sabe quando a cabeça está tão cheia de problemas que parece difícil raciocinar? Isso não é só impressão, é um fato. Diferentes pesquisas constataram que a escassez, seja de tempo, calorias ou dinheiro, afeta nossas decisões. Surpreendente, não? É como se a falta capturasse a nossa atenção e entrássemos num túnel. Deixamos de ver tudo o que não se relaciona com a falta, e vivemos uma espécie de cegueira seletiva.

Como a escassez afeta a tomada de decisões

No livro Rápido e Devagar, de Daniel Kahneman, o autor mostra que o cérebro pode tomar decisões de duas maneiras. Em cenários de escassez, o caminho utilizado é o mais rápido e, por ser o menos racional, leva a escolhas potencialmente ruins.

No livro Escassez, de Eldar Shafir e Sendhil Mullainathan, os testes empregados indicaram que, diante da escassez de recursos, a capacidade cognitiva é prejudicada. Toda a atenção é direcionada para a questão que precisa ser resolvida imediatamente e, assim, várias outras são negligenciadas.

A mesma lógica foi constatada na tese de Fernando Fonseca. Ele concluiu que pessoas de classes menos favorecidas tomam decisões relativas à poupança considerando apenas o presente, o que reduz suas chances de conquistar um futuro melhor. Realmente, deve ser muito difícil pensar em poupar para o longo prazo quando não se tem condição de lidar com as necessidades mais básicas…

O ciclo vicioso da dívida!

Em parte, vemos um pouco disso quando atendemos clientes endividados em nosso escritório. No geral, eles têm dificuldade para dormir, relaxar e, até mesmo, manter relacionamentos afetivos. Lentamente, a dívida vai consumindo toda a energia daquele que a possui. E, no intuito de deixar o problema no passado, é muito comum colocar o patrimônio em jogo.

Infelizmente, essa decisão pode representar um problema… Você vai entender o motivo dessa afirmação em breve. Tenha fé! Importante dizer que estamos considerando que o endividado possui um patrimônio. Para o nosso exemplo, esse patrimônio é formado por apenas um carro. A depender do tempo e dos juros que incidem sobre o passivo, a venda do carro pode não ser suficiente para colocar um ponto final na dívida. Mas vamos pensar positivamente. E assumir que a venda do bem gerou recursos para quitar o passivo. Ah! O alívio é imediato. Afinal, a dívida ficou para trás.

Tudo vai bem no primeiro mês. No segundo e no terceiro… Até que o ex-endividado se depara com uma bicicleta dos sonhos ao passar por uma loja especializada. E pensa que seria uma boa ideia comprar o camelo para ir ao trabalho em dias de sol. Então ele decide adquirir o veículo em suaves parcelas no cartão de crédito. Lá pelo terceiro mês após a compra da bike, o acúmulo de parcelas no plástico já corresponde à metade do salário mensal. E novamente o ex-endividado se vê em maus lençóis. A sensação de aperto volta a estar presente.

O patrimônio se foi, mas a dívida voltou!

Provavelmente, não é a primeira vez que você lê essa história. Aliás, você deve conhecer ao menos uma pessoa que viveu algo similar. Considerando o conjunto de indivíduos que enfrentaram a mesma situação, podemos supor que aspectos subjetivos expliquem essa dinâmica, a exemplo do que foi observado nos estudos sobre escassez.

Agora, em nosso exemplo, o endividado está sem patrimônio. E, portanto, para quitar sua dívida, ele terá que adotar outra atitude, pois não há atalhos para a solução do problema. Em nosso dia a dia, defendemos que, antes de oferecer um patrimônio para liquidar uma dívida, é fundamental elaborar um diagnóstico com a finalidade de identificar como ela foi construída. Só assim será possível corrigir as condutas que resultaram no passivo e estabelecer uma estratégia que otimize os recursos disponíveis.

Vendo por outros olhos…

Mas por que a pessoa com dificuldades financeiras dificilmente consegue se organizar sozinha? Porque ela só enxerga a falta. Além disso, ela está lidando diretamente, e a todo momento, com a dívida. Cobranças no celular, cobranças no e-mail, cobranças por todo lugar…

Dessa maneira, o endividado praticamente fica paralisado e sem condição de avaliar o problema racionalmente. Por isso, é tão importante contar com o auxílio de um especialista para trazer lucidez à situação, já que este não tem envolvimento emocional com o problema. Além do conhecimento técnico, que tende a gerar economias e melhores escolhas, é muito importante não se sentir sozinho nessa jornada.

Se você está passando por uma situação semelhante, busque ajuda! Seja de um planejador financeiro certificado, seja por meio dos programas de prevenção ao superendividamento, do Procon… O importante é ter apoio para que o processo seja o menos penoso possível, tanto na esfera emocional, quanto na dimensão financeira. O seu bolso agradece.

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Categorias:Blog, Finanças pessoais
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