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Fuja da caderneta de poupança!

15 de março de 2017 Renata Fontes

No início da semana passada, o Banco Central divulgou o Relatório de Poupança, o qual traz estatísticas interessantes sobre a caderneta de poupança. Seguindo esse anúncio, várias matérias pipocaram nos meios de comunicação, como era de se esperar. Uma delas nos chamou a atenção pela manchete: “Poupança tem saque líquido de R$ 1,6 bilhão em fevereiro.”

Em nossa visão, utilizar o termo saque líquido foi um tanto infeliz. Aqui vai uma provocação… Responda rapidamente: o que é um saque líquido? Diante da pressão, poderíamos dizer que o banco cobrou uma taxa para a realização do saque. Então, se você pretendia sacar R$ 100,00, você teria colocado R$ 97,00 no bolso. Ou seja, a título de exemplo, seriam gastos R$ 3,00 para sacar R$ 100,00.

Geralmente, o termo líquido envolve a percepção de uma despesa, custo ou imposto que é cobrado no meio do caminho. É comum contratar investimentos pela taxa bruta, isto é, somente no resgate do recurso será possível calcular a rentabilidade líquida, pois essa depende da alíquota do Imposto de Renda (IR). Outra situação que pode ser utilizada como exemplo diz respeito à receita bruta de uma determinada empresa. Entre a receita bruta e a receita líquida estão as deduções, que podem representar os impostos incidentes, os descontos concedidos e as devoluções de mercadorias. Mas isso é apenas um parêntesis.

Brasileiros mantêm mais de R$ 660 bilhões na caderneta de poupança

O maior objetivo desse post é avaliar o desempenho da caderneta de poupança, e procurar razões que expliquem porque os brasileiros mantêm mais de R$ 660 bilhões aplicados nela! E, para isso, como habitualmente fazemos, fomos beber na fonte. Na página eletrônica do Banco Central, está disponível uma planilha, em que pode ser observada a evolução, dia após dia, desde o início de 2003, de alguns valores relacionados à caderneta de poupança:

  • Depósitos
  • Retiradas
  • Captações Líquidas
  • Rendimentos Creditados
  • Saldo

Ao longo de 2016, e a despeito de tal aplicação entregar a pior rentabilidade em renda fixa do ano, o volume de depósitos efetuados na caderneta de poupança somou, aproximadamente, R$ 1.948 bilhões. Ah! Considerando a crise econômica, o enorme contingente de desempregados e, principalmente, o baixo retorno da poupança, esperávamos ver um volume de retiradas muito, mas muito maior… Só que não: as retiradas totalizaram R$ 1.989 bilhões em 2016. Portanto, a diferença entre depósitos e saques, aliada aos rendimentos da caderneta de poupança creditados no decorrer do exercício, não reduziu o saldo da caderneta no ano.

Assim como o porquinho que simboliza essa alternativa de “investimento”, esse balanço representa um grande mistério! De toda forma, é inegável o sucesso da caderneta de poupança entre a população brasileira.

A caderneta de poupança está ao alcance de todos

Achamos que um bom começo é pensar na simplicidade do produto. Pelo menos é o que parece estar gravado na mente das pessoas. Não acreditamos que haja, entre os aplicadores da caderneta, um domínio sobre a nova regra de remuneração, que vincula a rentabilidade da poupança à taxa SELIC, caso esta seja inferior a 8,5% a.a. Contudo, achamos que a ideia da data de aniversário já foi assimilada por todos.

Adicionalmente, a caderneta de poupança sempre foi divulgada como um “investimento” seguro. Além de não haver incidência de IR, o recurso está disponível para saque a qualquer momento e a logística envolvida na operação requer pouco tempo do titular da conta. Porém, estamos falando de um “investimento” que rendeu 8,3% em 2016, quando o Tesouro SELIC entregou 10,9% no mesmo período[1].

Apesar de o Tesouro SELIC ser propagado por diversos especialistas (estamos nos incluindo aqui!) como uma das opções mais interessantes para receber os recursos aplicados na caderneta, o saldo investido nesses títulos somava R$ 8,2 bilhões ao final de 2016[2]. Isso equivale a 1,2% do saldo acumulado na poupança. Pasme!

Alguns fatores explicam o porquê de o Tesouro SELIC não ser uma alternativa para muitos brasileiros

Essa realidade nos faz pensar que existem outros fatores que impedem a migração de recursos da poupança para o Tesouro SELIC. Entretanto, ainda carecemos de informações para uma avaliação mais precisa. Acreditamos, contudo, que é possível fazer algumas elucubrações sobre o fato de o Tesouro SELIC não configurar como uma alternativa para milhões de brasileiros…

Sem medo de errar, podemos afirmar que a caderneta de poupança é um produto consolidado no país, já que a mesma foi criada na época do Império, ao redor de 1860. Por sua vez, o programa Tesouro Direto acabou de completar 15 anos de idade. Bom… Devemos considerar ainda dois aspectos: o reduzido nível de alfabetização financeira da população, bem como a taxa de penetração da internet nos domicílios, que atingiu 51% em 2015, segundo a TIC Domicílios. A maior complexidade do Tesouro SELIC, aliada à necessidade de acesso à internet para o investidor realizar as operações, representa uma barreira à entrada.

Corrupção e propaganda negativa podem prejudicar a expansão do Tesouro SELIC

Além disso, como o Tesouro SELIC representa um título da dívida pública brasileira, é possível que as pessoas associem os recentes escândalos de corrupção ao risco de perda do recurso investido. No mais, em nossa humilde opinião, os responsáveis pelo programa Tesouro Direto têm sido discretos nas campanhas publicitárias, geralmente restritas à internet.

Isso torna-se ainda mais relevante, considerando que os maiores bancos do país não têm interesse em recomendar investimentos nos títulos públicos, pois isso gera um impacto negativo na sua rentabilidade. Não acredita nisso? Pergunte ao gerente do seu banco o que ele acha dessa alternativa?

Ah! Já falamos demais… Mas, pra fechar, e só pra deixar a nossa posição explícita: somos favoráveis à transferência dos recursos aplicados na caderneta de poupança para os títulos do Tesouro SELIC. Não perca tempo, nem dinheiro!

[1] As duas aplicações estão líquidas de IR. No caso do Tesouro SELIC, consideramos que o aplicador permaneceu com o recurso aplicado durante todo o ano e, dessa maneira, trabalhamos com a alíquota de 20%. A rentabilidade líquida do Tesouro SELIC poderia ser maior, caso o recurso estivesse aplicado por maior prazo.

[2] http://www.tesouro.gov.br/tesouro-direto-balanco-e-estatisticas

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Categorias:Blog, Finanças pessoais, Serviços financeiros

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