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A generosidade pode atrapalhar a sua vida financeira

14 de fevereiro de 2019 Renata Fontes

Você é generoso? Se a sua resposta foi sim, leia esse post até o fim. A rima foi mera coincidência. Pode acreditar!

Ainda no Rio, véspera de Natal, a campainha de casa tocou no meio da manhã. Naquele tempo, não havia tanto problema de segurança na cidade. Inclusive, as portarias dos prédios nem tinham grades na zona sul… Meu pai foi atender a porta e, ao abri-la, se deparou com uma mulher de um pouco mais de 30 anos. Ela vinha acompanhada da filha, que devia ter uns seis ou sete anos de idade.

A mãe pedia uma ajuda, pois queria comprar um brinquedo para a menina. Naquele exato instante, não consegui perceber a generosidade do meu pai. Sem hesitar, ele foi até a árvore de Natal e pegou um embrulho com um dos presentes que seria destinado a mim após o badalar da meia noite. Tinha certeza de que o pacote escolhido era meu, pois eu costumava investigar previamente quais presentes traziam o meu nome na etiqueta e compará-los com os dos meus irmãos. Coisa de criança!

Ser generoso é sacrificar os próprios interesses!

Confesso que, no momento, foi bem difícil entender a razão dele ter feito isso com a própria filha, por mais que ele tivesse prometido que me compraria outro presente durante a semana. Mas, possivelmente, eu teria atitude semelhante hoje. Foram tantas lições em questão de minutos…

Todos nós sabemos que a generosidade é uma virtude. Inclusive, no dicionário, diz-se que alguém é generoso quando este se dispõe a sacrificar os seus próprios interesses em benefício de outrem. Mas você deve estar se perguntando o motivo de abordarmos a generosidade em um blog que trata de questões financeiras. Esperamos esclarecer essa relação no decorrer do texto…

Como você deve ter notado, meu pai deixou muitas marcas em relação à generosidade. Para ele, era impraticável ver alguém passando por alguma necessidade e virar as costas. Pouco importava se a demanda era proveniente de familiares, amigos ou desconhecidos. Sendo criada nesse contexto, pude aprender que a generosidade traz impactos para quem a pratica. Alguns positivos, outros nem tanto… Na nossa família, considerando exclusivamente a ótica financeira, os reflexos negativos não foram sentidos na maior parte das vezes. Porém, em situações específicas, perdemos alguns bens, como imóveis e ações. Na época, elas eram ao portador. Acredito que a única linha que meu pai não cruzou em virtude da sua generosidade foi a da dívida. Mas nem posso afirmar isso categoricamente…

Como tudo na vida, é necessário definir limites para a generosidade

Apesar disso, não considero a generosidade um problema. De forma alguma! Contudo, defendo a importância de se estabelecer limites e, principalmente, estar alerta para as suas diversas facetas. Por falar nisso, recomendo a leitura da matéria “Pergunte-se se você é generoso ou apenas carente”, redigida por Francesc Mirales (clique aqui).

Em primeiro lugar, existem diferentes formas de se praticar a generosidade. Por mais que o dinheiro possa facilitar a vida em inúmeros aspectos, é possível acolher um amigo, escutar as angústias de um desconhecido ou se envolver em algum trabalho voluntário, sem mexer na conta bancária. Entretanto, nos dias de hoje, são poucas as pessoas que estão dispostas a lidar com a dor ou o sofrimento do outro. Além disso, a vida é corrida e o tempo cada vez mais escasso.

Em razão disso, o generoso acaba fazendo doações em espécie ou até mesmo recorrendo a empréstimos, com o intuito de repassar o recurso para familiar ou amigo sem crédito disponível na praça. Repare que, caso a pessoa necessitada não tenha condições de quitar as parcelas no vencimento, o generoso responderá por elas junto ao banco. E, se isso acontecer, terá seu orçamento prejudicado por uma dívida que não é verdadeiramente sua ou seu nome incluído nos órgãos de proteção ao crédito.

As diversas cores da generosidade

Falamos que a generosidade possui algumas facetas… Ao acompanhar a vida financeira de várias pessoas, observamos que essa virtude pode estar ligada à necessidade de ser aceito.  A partir disso, passamos a pensar na generosidade como um eixo, uma escala. Numa ponta, temos a virtude da forma pura, as pessoas altruístas, para as quais o ato de doar é um fim em si mesmo.

Na medida em que caminhamos para o extremo oposto, a generosidade vai ganhando outros contornos. E exatamente naquele ponto, notamos que quem a pratica deseja algo em troca ou guarda um sentimento de culpa, sem ter consciência disso. Ser generoso nos faz sentir bondosos, leves, admirados. E, sem dúvida, procuramos por essas sensações com frequência. 

Com base nessas percepções, queremos alertar você para as diversas cores da generosidade. Se ela leva uma pessoa a consumir continuamente sua sobra de caixa, recorrer à reserva financeira, entrar no cheque especial ou, até mesmo, se endividar, é possível afirmar que estamos diante de um desequilíbrio. E, portanto, deve-se enfrentar a situação.

Deixar o lugar que o generoso costuma ocupar pode ser um primeiro passo. Negar um pedido também é uma saída. De toda forma, superar o receio de como essas atitudes irão impactar seus relacionamentos é um grande desafio! Agora, se essa prática é um fim em si mesmo para você, se o seu orçamento mensal comporta tais atos e se a sua capacidade de poupança não está sendo pressionada por sua generosidade, continue assim, pois é dando que se recebe!

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Categorias:Blog, Finanças pessoais

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