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E a reputação do Oscar vai para…

1 de março de 2017 Renata Fontes

Eu acredito que muita gente viu a cerimônia do Oscar 2017 ao vivo. E, quem não o fez, já deve ter ouvido comentários sobre um dos maiores erros na história do evento. Vou aproveitar essa repercussão para falar de valores subjetivos, como reputação e imagem. 

Justamente na entrega da estatueta de Melhor Filme do Ano, anunciaram o vencedor errado… Parece piada. Imagine tudo o que passou pela cabeça dos envolvidos. Os apresentadores que anunciaram os vencedores de forma equivocada, os perdedores que subiram ao palco e discursaram como vencedores, e os reais vencedores que, dois minutos e meio após o famigerado anúncio, foram surpreendidos ao ouvir que o prêmio era deles. Tudo isso sendo assistido por quase 33 milhões de pessoas ao redor do mundo.

Difícil de acreditar, né!? A situação foi tão inusitada que resolvi conhecer os motivos que ocasionaram tamanho vexame. Estamos falando da maior cerimônia de premiação da indústria cinematográfica do mundo, organizada pela tradicional Academia de Artes e Ciências Cinematográficas, fundada na Califórnia em 1927. Lá se vão quase 90 anos de vida…

Uma das “Big Four” por trás do acontecimento

Foi então que me deparei com o nome da PricewaterhouseCoopers (ou, simplesmente, PwC), uma das quatro maiores auditorias independentes do globo, que, há 83 anos, é a responsável pelo processo de tabulação dos votos e entrega das estatuetas na cerimônia do Oscar. Sem dúvida, isso aumentou o meu estado de choque! Vou explicar o porquê.

Primeiro, para os que não sabem, uma auditoria independente presta serviços de auditoria às companhias abertas, aquelas que têm suas ações negociadas em bolsa de valores. De uma forma simplificada, uma companhia aberta é obrigada por lei a contratar uma auditoria independente com o objetivo de garantir a integridade de suas demonstrações financeiras e, assim, manter a confiança dos investidores na empresa. E ela paga caro por isso!

Afinal, o processo de auditoria das peças contábeis é complexo, e pressupõe a adoção de um conjunto de procedimentos técnicos que têm por objetivo a emissão de parecer sobre a adequação com que as demonstrações contábeis refletem a posição patrimonial e financeira da companhia auditada. No Brasil, e sem esgotar a lista, a PwC audita as contas da Petrobras, Lojas Riachuelo, Embraer e Gerdau.

Cuidado, pois um fornecedor desatento pode prejudicar a sua imagem

Mas a PwC fornece outros serviços aos seus clientes, como consultoria de negócios, assessoria em transações e gestão de riscos. E, a partir de agora, quero me debruçar sobre o capítulo Riscos, que pode ser acessado no portal da empresa. Especial atenção me chamou um artigo intitulado “Quem cumpre o que você promete?”, justamente por ele tratar da importância da confiança quando uma empresa depende de terceiros para cumprir as suas promessas perante a sociedade e o mercado.

Qualquer semelhança é mera coincidência… A PwC era, para a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas, um fornecedor crucial para que a última mantivesse a integridade do Oscar. Estamos falando de algo subjetivo, como imagem e reputação. Mas, num piscar de olhos, esse algo subjetivo foi abalado.

De acordo com matéria no The Guardian, somente duas pessoas na PwC, responsáveis por entregar os envelopes com os premiados aos apresentadores das categorias, sabem os vencedores antes da cerimônia. Eles chegam separadamente ao teatro, protegidos por equipes de segurança distintas, cada um com um conjunto completo de envelopes com os nomes dos ganhadores. A partir de então, eles são posicionados no palco, um do lado direito e o outro do esquerdo. Antes de os apresentadores subirem ao palco para cada anúncio, eles recebem o envelope com o nome do premiado da PwC. Esse processo funcionou em todas as edições anteriores do Oscar.

Reputação é abalada por falha banal

Na 89a edição, o sistema simplesmente falhou. E a falha aconteceu no ápice do evento! Uma mera troca de envelopes… A PwC emitiu nota, formalizando um pedido de desculpas. A Academia fez o mesmo. E afirmou que está firmemente empenhada em defender a integridade do Oscar e da própria Academia.

É impossível saber o prejuízo que esse acontecimento irá ocasionar às duas instituições envolvidas, especialmente na PwC, cuja missão é “Fazer negócios com integridade. Preservar a nossa reputação e a do cliente. Respeitar as pessoas e o ambiente. Ser socialmente responsável. Trabalhar em conjunto e pensar sobre a maneira como trabalhamos. Considerar as dimensões éticas das nossas ações.” Não conheço os termos do contrato celebrado entre a PwC e a Academia. Mas não descarto a possibilidade de serem exigidas reparações nos tribunais.

De toda forma, acho que esse caso pode nos ensinar muito. E, portanto, ele merece e deve ser monitorado, especialmente por abranger valores intangíveis – marca, imagem e reputação – os quais são apontados por pesquisadores como essenciais para manter a prosperidade de um negócio no longo prazo. A despeito disso, acho que já recebemos uma preciosa lição: não podemos ignorar as etapas mais simples ou, até mesmo triviais, de um processo crítico. Jamais!

Para fechar esse post, acho conveniente lembrar um antigo provérbio japonês: “Tropeçamos sempre nas pedras pequenas, as grandes logo enxergamos”.

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