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Split de ações: o milagre da multiplicação

11 de dezembro de 2019 Renata Fontes

Acordei cedo. E resolvi visitar o aplicativo da corretora em que tenho conta para checar as cotações das minhas ações. Percebi que o preço do papel em que tinha a maior parte do meu patrimônio em renda variável havia despencado. Achei que era um erro do aplicativo.

Algumas horas depois, e já com o mercado a pleno vapor, o papel negociava por uma cotação muito inferior à de aquisição. Isso significava uma perda próxima a 20% do meu patrimônio em bolsa em apenas um pregão. Apesar da situação, e talvez para amenizar a sensação de fracasso, pensei que isso não representava prejuízo, até por que este só ocorre quando realizamos a posição, ou seja, vendendo a ação.

É comum não saber quando parar

Busquei informações sobre a empresa, tentando entender o que havia ocorrido. Encontrei um relatório de um banco de investimento que apontava resultados abaixo das projeções. Ao final, o analista que assinava o documento afirmava que suas estimativas indicavam uma queda superior a 50% no preço do ativo. Pelas barbas do profeta! Era exatamente o que estava acontecendo…

Eu não me conformava. Mas, na tentativa de me consolar, repetia pra mim mesma, como uma espécie de mantra, que eu continuava com lucro na renda variável. Contudo, a dor era quase física quando me lembrava da cotação… Ficava me punindo por não ter me desfeito de tal posição, mesmo que parcialmente. Afinal, estou falando de um papel que rendia mais de 150%. E, portanto, havia espaço para retirar o principal e ainda manter uma boa grana na ação.

O alívio da diversificação…

Para deixar as coisas mais claras, comecei a construir uma posição em bolsa há uns três ou quatro anos. E minha carteira passou a ser composta por uns dez papéis. Muitos deles, talvez até todos, se valorizaram nesse período. E, mesmo atravessando momentos de quedas acentuadas, por razões políticas ou pela cena externa, o retorno no período era positivo, tanto emocionalmente, quanto materialmente. Testar limites, exercitar a paciência e ganhar dinheiro é bom! Especialmente quando isso significa ganhar da renda fixa com sobras.

O fato é que a desvalorização implicava entregar todo o retorno obtido na ação até aquele momento e, inclusive, machucar o principal. Era simplesmente assustador! Ninguém discute que operar em renda variável traz risco de perda. Inclusive, algum amigo ou familiar já te contou que perdeu tudo na bolsa. Mas enquanto não é você que está passando pelo revés, parece que a possibilidade de perda é algo distante.

Então, na expectativa de acordar de um verdadeiro pesadelo, no decorrer do dia, eu voltava ao home broker para me certificar de que o que estava acontecendo estava realmente acontecendo. E toda vez que fazia isso, me sentida derrotada. Passei a me pegar, inconscientemente, traduzindo a perda para meses de trabalho… E isso me corroía. Senti na pele o que havia compreendido na teoria: a dor da perda é duas vezes mais poderosa do que o prazer do ganho.

O milagre da multiplicação no split de ações

Algumas horas depois, e ainda anestesiada, decidi visitar o site da empresa. Foi quando encontrei um Fato Relevante, comunicando um split (ou desdobramento) de ações, expediente muitas vezes utilizado pelas companhias abertas para aumentar a liquidez do papel. Voltei ao home broker e visitei o fórum de discussão. Lá diziam que a posição da ação ainda seria ajustada pelo split de ações. Não é possível descrever a sensação de alívio…

Lembrei do relatório que havia lido. Voltei nele e identifiquei que a data do documento era antiga. Simplesmente, a perda com que eu estava me deparando me cegou completamente. No dia seguinte, tudo voltou ao normal. A quantidade de ações havia dobrado, enquanto o preço do papel era metade do valor pago. Meu investimento naquele papel estava intacto.

Fiquei alguns dias remoendo o acontecimento. Mesmo tendo uma estratégia de longo prazo no investimento em renda variável, a sensação da perda foi, no mínimo, muito desagradável. E olha que já tive opções “virando pó”… Talvez seja a lacuna entre os estados mentais quente e frio, citada por Dan Ariely em matéria publicada na Folha de São Paulo: posso lidar com um nível de risco que implique ganhos de até 15% e perdas de até 10%.

Mas quando nosso patrimônio cai 5%, entramos em desespero e queremos estancar imediatamente a possibilidade de perder mais dinheiro. Experimentar a perda por algumas horas foi uma senhora lição! Mas o principal aprendizado foi não fazer absolutamente nada até compreender na íntegra o que estava ocorrendo com a empresa e, consequentemente, com a sua ação. 

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Categorias:Blog, Finanças pessoais, Investimentos
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