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Um caso sobre (a falta de) gestão de negócios…

19 de setembro de 2016 Renata Fontes

Como de praxe, fiz uma pausa em minhas atividades profissionais por 15 dias. Visitei o Rio por uma semana, a fim de desfrutar as Olímpiadas. Em seguida, fui à Brumadinho e Tiradentes. Além de mineiras, essas duas cidades são abraçadas por serras. A primeira pela Serra da Moeda. A segunda pela Serra de São José. O visual é realmente espetacular! Mas esse post não é sobre turismo, eu vim aqui para falar um pouco sobre gestão de negócios, mesmo que sobre a sua ausência. O tema foi decorrente da minha estadia em Minas Gerais.

Em Minas, eu tive a oportunidade de conhecer o Instituto Inhotim, um misto de jardim botânico e museu ao ar livre. Acho que ainda é cedo para falar sobre os impactos da iniciativa no entorno, mas acredito que os números já são positivos. Por sua vez, Tiradentes conta com um circuito gastronômico que traz um grande fluxo de turistas à região. Além disso, é uma cidade frequentemente escolhida para ser a residência de muitos artistas plásticos e artesãos. Lá, vi belos trabalhos em ferro e madeira, além de telas retratando a natureza exuberante que cerca a cidade. Dentre tantas histórias que ouvi, escolhi compartilhar a de um casal de artesãos. Aqui, resolvi chamá-los de Rita e Oswaldo, a fim de preservar suas identidades.

Criatividade e qualidade do produto compensam a inexperiência na gestão de negócios

A Rita e o Oswaldo são responsáveis por desenvolver um artesanato criativo, a partir de cabaças de abóboras, que mantém sua casa e dois filhos. Esses já passaram da adolescência. Conversando um pouco com a Rita, notei tanta simplicidade e entrega que me comovi. Me surpreendi ao perceber que ela me contava o segredo do seu trabalho após 10 minutos de prosa… Difícil de acreditar, mas é a pura verdade! Em seguida, ela relatou que muitas pessoas tentaram copiar suas peças, mas foram incapazes de alcançar os mesmos resultados, pois desconheciam um certo detalhe… Ufa! Ao perceber sua vulnerabilidade, decidi alertá-la e falei: “- Rita, não conte isso pra ninguém! Nem mesmo pra mim!”

Tudo bem que ela já tinha contado… O exagero era para mostrar que ela não deveria revelar aquele segredo de modo algum, independentemente de qualquer coisa. Embora eu não saiba quanto tempo eles levaram para chegar ao produto final, certamente isso envolveu estudo, pesquisa e algumas tentativas fracassadas. Ou seja, o processo de fabricação atual tornava o produto deles diferenciado, único no mercado.

Esse “causo” traz a possibilidade de refletir sobre várias coisas… Talvez a mais óbvia seja a inexperiência da Rita e do Oswaldo em gestão de negócios. Mas a principal delas se resume a algo simples. Às vezes, temos ouro em nossas mãos e não sabemos. Ou por ser algo tão natural que acabamos desvalorizando… Ou tão somente por estarmos acostumados a pensar nas horas gastas para concluir um produto ou serviço.

Formar preço de produto a partir de trabalho criativo ou intelectual é um desafio!

O fato é que, no caso do trabalho criativo e intelectual, por exemplo, as horas gastas refletem um passado de dedicação, estudo, reflexão e experiência. É aquela velha história atribuída a Picasso, que cobrou cinco mil francos de uma senhora que lhe pediu para pintar seu retrato. Ela ficou assustada com o valor, e disse: “- Tudo isso? Mas você só levou alguns minutos.” E ele, prontamente, lhe respondeu: “- Não, levei minha vida inteira.” Picasso não cobrava pelo tempo que levava para executar seu trabalho, mas sim pelo tempo que levou para aprendê-lo[1].

A Rita não assina as peças que cria. É como se nem mesmo ela e seu marido reconhecessem a qualidade do que produzem. E tem mais: possivelmente por utilizarem elementos abundantes na natureza, eles praticam preços inferiores ao que o mercado estaria disposto a pagar. Digo isso sem medo de errar. Eu, que tenho o hábito de pedir descontos em todas as compras que faço, não me atrevi a regatear, pois considerei o preço praticado abaixo do justo.

É um tremendo desperdício… Afinal, os dois estão abrindo mão de rentabilidade, e muito provavelmente sem saber. E isso é resultado da ausência de conhecimentos básicos em gestão de negócios, marketing e finanças. Pra começar, a atividade profissional se mistura com a vida pessoal (já falamos disso neste mesmo blog!), pois o negócio funciona na casa deles.   Embaixo da janela da sala, e na própria calçada, seu marido trata as cabaças. As peças prontas ficam expostas em uma espécie de varanda. Conheci a sala e a cozinha. Os espaços são modestos e não há luxo algum. Por mais que eu esteja trazendo minhas percepções (é possível que outras pessoas discordem!), eu poderia dizer que é uma vida com privações. Mas não havia sinal algum de tristeza ou revolta no ar. Muito pelo contrário, os dois se mostravam serenos, abertos e cheios de gestos generosos.

Será que é realmente um desperdício? Talvez a Rita e o Oswaldo, mesmo desprovidos de conhecimentos em gestão de negócios, sejam mais sábios do que muitos de nós…

[1] HILL, S. A arte de influenciar as pessoas. Apalestra Editora, São Paulo: 2012.

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Categorias:Blog, Empreendedorismo, Pequenos negócios
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